O que faz um diretor de teatro? Marcio Abreu explica os bastidores da cena contemporânea

  • 06/04/2025
(Foto: Reprodução)
À frente da Companhia Brasileira de Teatro, o diretor é um dos nomes mais influentes da cena teatral brasileira. Marcio Abreu Nana Moraes Para entender os bastidores de um espetáculo, como é dirigir um e o que cabe a um diretor, o g1 conversou com Marcio Abreu, um dos nomes mais influentes da cena teatral brasileira. Fundador da Companhia Brasileira de Teatro, sediada em Curitiba desde 1999, Abreu também foi curador do Festival de Curitiba de 2016 a 2019, e do Festival Midrash de Teatro, no Rio de Janeiro. ✅ Siga o canal do g1 PR no WhatsApp ✅ Siga o canal do g1 PR no Telegram Nesta 33ª edição do evento, de 24 de março a 6 de abril, Abreu trouxe para a Mostra Lucia Camargo o espetáculo ‘Ao Vivo (Dentro da Cabeça de Alguém)’, o primeiro a esgotar os ingressos para duas apresentações no Teatro da Reitoria, em Curitiba. O trabalho, que é fruto de uma criação coletiva da companhia, estreou em agosto de 2024, em São Paulo. Inspirada em ‘A Gaivota’, de Tchekhov, a peça com texto original do diretor, conta no elenco com Renata Sorrah, Rodrigo Bolzan, Rafael Bacelar, Bárbara Arakaki e Bixarte. Marcio trabalha com artistas e pensadores de múltiplas linguagens, de diversas cidades do país e do exterior e já recebeu diversos prêmios por suas criações, entre eles: Bravo, APCA, Shell, APTR, Cesgranrio, Quem, Questão de Crítica, Gralha Azul, entre outros. Foi com a peça ‘Sem Palavras’ que estreou em 2021, na França, passando pela Alemanha e fazendo longa temporada no Brasil em 2022 que recebeu o Prêmio Shell de Melhor Dramaturgia. Marcio Abreu Nana Moraes ‘Por que não vivemos’, adaptação da obra de Tchekhov; ‘Preto’ com dramaturgia própria em parceria com Nadja Naira e Grace Passô; ‘Nós’ e ‘Outros’, ambas montagens com o Grupo Galpão; ’O Espectador’, adaptação do texto de Matéi Visniec, dirigido em parceria com Enrique Diaz; ‘Voo Livre’, trabalho no campo das experimentações composto por três peças; e ‘Sonho Manifesto’, a partir da obra de Sidarta Ribeiro, são alguns dos seus inúmeros trabalhos. Tem textos publicados pelas editoras Cobogó, Javali, Revista Ensaia, Revista Subtexto e Maison Antoine Vitez. Tem peças traduzidas para o francês e o espanhol. Leia as perguntas e respostas abaixo. O que significa dirigir um espetáculo? Como fez este caminho? "Eu associo a ideia de eu ter me tornado diretor, encenador pelo movimento, pelo desejo e pela consciência que foi se formando, pouco a pouco, de que eu gostaria de me ocupar, me encarregar das escolhas e decisões sobre as minhas manifestações artísticas no mundo. O meu lugar no mundo é o de me manifestar através da minha arte. Isso foi me levando aos poucos a uma consciência de que eu tenho um projeto artístico a longo prazo, ao longo da vida, e que as peças que eu crio são manifestações pontuais com determinadas especificidades desse projeto artístico maior. Eu costumo dizer que o meu trabalho é como se fosse um rio subterrâneo e, vez ou outra, esse rio subterrâneo emerge e rompe. Essas emersões são as criações, são as peças e trabalhos que crio em diversas linguagens. A direção tem a ver justamente com esse campo de tomar frente daquilo que sensivelmente eu vou movendo no mundo. É sobre assumir minha própria voz, no que ela tem de risco, no que ela tem de proposição para o futuro, de vislumbre estético, ético e político. É um território que eu habito, eu ocupo esse lugar com a consciência de que ele é arriscado e também é propositivo, ele move outras pessoas, move as possibilidades de relação com os públicos diversos, assim como os modos de produção", falou. Muitos definem a direção como ‘olhar de fora’, como é pra você? "Não entendo a direção como ‘olhar de fora’, mas como um olhar mais complexo do que isso, uma presença mais profunda no processo de criação artística nas artes vivas. O ‘olhar de fora’ é um dos múltiplos aspectos da direção, há também uma presença muito interna, de dentro, e não é só o olhar, mas é um conjunto de sentidos, de percepções que torna possível articular uma quantidade muito grande de recursos e de sensibilidades. Abrange não são os artistas envolvidos, mas todas as sonoridades, as visualidades, os movimentos de articulação no espaço que integram uma experiência viva num espaço físico. E é nesse espaço bem complexo, que se torna sensível e perceptível ao público, que se cria uma zona de diálogo, de relação. A direção é um espaço de autoria muito diverso, múltiplo", disse. Marcio Abreu Nana Moraes No teu caso a direção está muito conectada com a dramaturgia? "A direção é uma espécie de escrita também, na verdade, no meu entendimento e na minha experiência são zonas indissociáveis. Sou um diretor-autor e um autor-diretor, a direção também é uma maneira de escrever, mas escrever tridimensionalmente, escrever no espaço, inscrever na experiência, promover esse campo múltiplo de relações, relação entre os atores, relação do público com aquilo que se vê ou que se percebe, relação de todos os elementos que compõem a encenação, como o som, a luz, o tempo, o corpo, as dramaturgias, a palavra, a duração, a produção de imagens, e não só imagens audiovisuais, mas imagens tridimensionais que são compostas no momento de uma apresentação, inclusive no imaginário do público. Isso tudo é a matéria de criação de um diretor ou diretora. É dessa maneira que se inscreve no tempo e na experiência coletiva e presencial uma obra viva, presencial, como é o teatro", relatou. Quais são as tuas referências? "Os meus referentes são múltiplos. Eu tenho muita influência e estímulo não só no teatro, mas também na literatura, na dança, nas artes visuais, no audiovisual, no cinema e, sobretudo, na observação da vida. Como que eu abro a janela e olho para fora? Essa é uma grande referência. O teatro é um aspecto do real, do que está presente na vida. O tempo de uma obra ao vivo, de uma obra de teatro, é um tempo também de vida de todas as pessoas envolvidas, artistas e público. A arte faz parte da vida, ela não está fora, por isso minhas referências se dão nessa observação sensível da vida, numa escuta do mundo, como o mundo chega até mim e como eu respondo artisticamente a isso". Alguns nomes? "É difícil citar nomes, mas artistas criadoras da cena, como a Pina Bausch e a Lia Rodrigues, uma das maiores diretoras do Brasil, me inspiram. Assim como outros grandes mestres do teatro brasileiro como Antônio Abujamra e Zé Celso; atores e atrizes com quem eu trabalho também são grandes referências, como Grace Passô, Renata Sorrah, Nadja Naira e Luiz Mello. É difícil nomear, o mais importante de dizer é que são diversas, toda a literatura latino-americana também é uma referência nas minhas criações, como Júlio Cortázar e Paulo Leminski, este artista paranaense múltiplo. Toda a poesia brasileira, a filosofia, pensadores como Leda Maria Martins, Samuel Beckett, Clarice Lispector e Nelson Rodrigues". "A música também é muito importante, desde a experimental, o samba, e feita nas periferias, as linguagens de borda que não respeitam as fronteiras impostas pelas lógicas hegemônicas. Me entendi sempre num lugar que se move, que tem trânsito, deslocamento". "Tenho também muita influência de alguns diretores poloneses como Krystian Lupa e Krzysztof Warlikowski, admiro o trabalho desses artistas. Cito ainda Ione de Medeiros, grande diretora de Minas, o Aderbal Freire Filho, diretor e mestre brasileiro e Yara de Novaes, que além de ser uma atriz extraordinária, é magnífica como diretora". E os desafios dessa prática, quais são? "A direção nas artes vivas é um campo de criação e de articulação de linguagens que faz aquilo que está sendo mobilizado chegar nas pessoas. Não basta ter a ideia, tem que fazer a ideia se materializar num campo de relações, porque o teatro é sempre o outro. A encenação é um acontecimento estético, ético, político, coletivo, social, cultural e artístico. O desafio da direção é estabelecer uma relação de pertencimento". 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FONTE: https://g1.globo.com/pr/parana/festival-de-teatro-de-curitiba/noticia/2025/04/06/o-que-faz-um-diretor-de-teatro-marcio-abreu-explica-os-bastidores-da-cena-contemporanea.ghtml


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